Terezinha Espinosa (Drª em Educação)
A decisão de um dilema é sempre individual.
Mas as suas consequências podem afetar muitas outras pessoas.
(Cortella, 2009)
Quem sou? Filha da Terra. Esse lindo planeta azul, parte do grandioso universo.
O que me mobiliza a refletir sobre ética? A esperança de que mesmo a mais insignificante voz, o mais insignificante ato pode contribuir para o novo. Me mobiliza o conhecimento sobre a teoria do caos e pelo chamado “efeito borboleta”. Segundo essa teoria, o movimento das asas de uma borboleta aqui ao meu lado pode provocar um furacão num outro lugar distante.
Vivemos um tempo de crise mundial de valores. Como saber o que é correto e o que não é? As tecnologias ajudaram na aceleração da vida, dos acontecimentos. Com isso, os mapas conhecidos não orientam mais. Nós sabíamos caminhar bem pelos caminhos consolidados. Sabíamos escolher o trajeto e tínhamos tempo para isso. Agora a dúvida se estabelece sempre que estamos frente às escolhas necessárias. Qual o melhor caminho? Qual a escolha que devo fazer? Qual caminho está de acordo com meus princípios?
As crises sempre criam oportunidades de revisitar nossas condutas, princípios e valores, assim como a construir novos paradigmas que nos inspirem na reconstrução para uma nova fase da humanidade e do planeta Terra. Nós, seres humanos, já conquistamos toda a superfície do planeta, talvez de forma avassaladora, predadora e manipuladora. Há milênios, alimentamos o insaciável desejo de conquistar o poder, o lucro, o consumo exacerbado. Agora é urgente revisitar o cuidar, uma atitude que faz parte da essência do humano.
O físico Fritjof Capra (1996) afirma que as soluções para os principais problemas do nosso tempo estão na necessária mudança radical em nossas percepções, pensamentos e valores. Os estudos dos físicos quânticos têm promovido o surgimento de uma transformação no pensamento, fazendo emergir o que Capra aborda como “ecologia profunda”. Consiste num nível de consciência que nos conecta ao todo, tendo o passado como referência para questionar o presente na perspectiva de orientar as gerações futuras na teia da vida da qual somos parte.
Portanto, o cuidado ganha centralidade para a esperança em uma nova ética que, com inteligência, sabedoria e amorosidade, preserva a herança essencial do passado para garantir o futuro da consciência coletiva.
Somos seres da convivência. É na relação com os outros que construímos princípios e valores. Com o outro aprendemos a cultura e construímos cultura. E nessas relações, a ética imprime a marca entre as fronteiras da convivência, como linha de tensão entre ternura e vigor.
A palavra ética é derivada do grego ethos que significa morada do humano, o lugar onde habitamos. O ethos marca, define as características de uma pessoa ou grupo de pessoas. Se fizer um retorno à morada da sua infância, pode refletir sobre os princípios e valores de conduta que marcaram sua vida. O que vai encontrar? Na minha casa, por exemplo, repetiam-se frases que estão guardadas na memória. “Nessa casa não se faz isso”; “ Irmão não briga com irmão”; “Serviço público é de todos não é particular”. Essas frases eram repetidas todas as vezes em que fosse necessário para definir o que podíamos ou não podíamos fazer. Ou seja, ao nos depararmos com dilemas, a escolha será sempre baseada nos princípios e valores de conduta orientadores de nossa ética. Então, quais são as marcas do seu ethos?
Compreendo que as sociedades são feitas de pessoas que convivem e que as culturas são caracterizadas pelas práticas socialmente construídas, logo o ethos de uma sociedade certamente traz as marcas da vida coletiva. Nós, seres humanos, habitamos no planeta Terra e convivemos com bilhões de outras formas de vida. Compartilhamos a mesma casa onde tudo está interligado e todas as nossas ações afetam a vida planetária. E dentro de cada um de nós também moram muitos outros seres que se não conviverem em harmonia, certamente haverá o colapso.
Portanto, a ética e a moral sempre nos colocam diante de dilemas que somente a decisão consciente vai direcionar para as escolhas que podemos e devemos fazer. Precisamos romper com a anestesia que tomou conta da humanidade e do planeta, onde a intolerância, a violência, a falta de cuidado, o consumismo exacerbado, transformou em “normal” as cenas cotidianas do absurdo.
Então, qual é a saída?
Reconstruir os princípios básicos da convivência universal com espírito de gratidão pela vida e com a humildade do sábio que tem a consciência ética de que colhemos o que plantamos.
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